Origem. Et. Do grego antigo polús (πολύς) "muitos, vários" + téchnē (τέχνη) "arte, técnica, ofício, construção", sugerindo-se a noção de "conjugação de muitas técnicas, ofícios, atividades práticas". Há um consenso de que o conceito de politecnia, como atualmente é compreendido, advenha dos apontamentos feitos por Karl Marx no século XIX, ao tangenciar em seus escritos o tema da Educação. |
Relacionando-se com o conceito abordado neste Produto Educacional, politecnia refere-se à pluralidade de saberes necessária ao trabalho, ou seja, é a multiplicidade de conhecimentos teórico-práticos necessários para a formação humana integral e sua atuação no mundo do trabalho.
Entretanto, não é simplesmente dominar as técnicas do exercício de um trabalho e sim superar a formação profissional estreita para compreender os fundamentos científicos que orientam os processos do trabalho contextualizados com a realidade social concreta.
Marx (1982) sugere a formação educacional em três etapas: 1) mental (intelectual); 2) educação física; 3) instrução tecnológica (princípios gerais de todo o processo de produção e uso prático e manejo dos instrumentos dos ofícios.
Trata-se do que já é abordado neste produto, no caso, a formação integral do ser humano, a omnilateridade, a partir da politecnia, ou seja, a partir da apreensão dos fundamentos científicos dos meios de produção, dos fundamentos naturais contextuais da realidade em que se vive e do saber prático do uso e manejo dos instrumentos de produção, tem-se um ser humano integral.
Para Machado (1989, p. 129): “No ensino politécnico, não é suficiente apenas o domínio das técnicas; faz-se necessários dominá-las ao nível intelectual”.
Maciel (2018) interpretando Marx traz politecnia como um princípio pedagógico assim como o trabalho é um princípio educativo e explica com base em Maciel e Braga (2007, p. 61) que a politecnia busca o desenvolvimento integral das potencialidades humanas a partir da cognoscibilidade, habilidade, sensibilidade e sociabilidade:
A cognoscibilidade como desenvolvimento das dimensões lógico-cognitivas e psíquicas (onde o conhecimento científico e tecnológico seja determinante); a habilidade, enquanto expressão de capacidades psicomotoras e físicas (onde o esporte e a formação profissionalizante constituam suportes fundamentais); a sensibilidade como potencialização de todos os sentidos (onde a música, a dança, a literatura, o teatro e as artes visuais, gráficas e plásticas tenham lugar privilegiado); e a sociabilidade enquanto efetivo exercício político da práxis social (onde a cidadania participativo-transformadora, a ecologia humana crítica e a saúde tenham prioridade).
A Lei n. 9.394/1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), remete a politecnia em seu dispositivo: “A educação profissional e tecnológica, no cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia”.
Politecnia, então, significa “muitas técnicas”. Mas também pode ser interpretada como a formação humana em todos os aspectos, a educação omnilateral, humanista e científica. (CIAVATTA, 2014).
O seu sentido, segundo a professora Ciavatta (2014), foi um traçado histórico: sua origem remonta à educação socialista que pretendia ser omnilateral para formar o ser humano em sua integralidade, física, mental, cultural, política, científico-tecnológica.
Frigotto (1989) aponta:
A concepção de ensino e formação politécnica é uma crítica radical ao projeto excludente, elitista, diferenciador do ensino e da formação desenvolvido na sociedade capitalista.
Outro ponto importante é o aprofundamento na luta pela universalização da escola pública, unitária e laica.
Ademais, o processo de produção e reprodução do conhecimento também ganha destaque. Se nas primeiras séries, o eixo central é o desenvolvimento sistemático do mundo da linguagem e do pensamento, nas fases seguintes virão as ciências que darão o domínio da natureza e da sociedade. Aí reside a possibilidade de superação das dicotomias: formação geral e específica; formação técnica e científica; forma e conteúdo; teoria e prática.
TOME NOTA, ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO! “Não há dúvida de que podemos pensar na escola como instituição que pode contribuir para a transformação social.(...) E aqui subjaz, portanto, o suposto de que a escola só poderá desempenhar um papel transformador se estiver junto com os interessados, se se organizar para atender aos interesses das camadas às quais essa transformação favorece...” (Paro, 2017) O autor também manifesta que o servidor da educação é aquele que exerce tanto as atividades-meio quanto as atividades-fim, ou seja, o servidor que exerce suas funções ligados a setores de ensino, pesquisa e extensão pode ser facilmente visto como educador, mas é fundamental enfatizar que o educador também trabalha em setores administrativo/burocráticos, pois tudo na escola deve ser realizado em prol do atendimento ao estudante. Te convido a assistir o curso “Formação politécnica: conceito e aplicações”, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=BENYxy7O8nE, produzido pelo Instituto Federal do Espírito Santo (IFES). |
Referências bibliográficas e sugestões de leitura
BRASIL. Lei n. 9.394/96. LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em 11 ago. 2023.
CIAVATTA, M. O Ensino Integrado, a politecnia e a educação omnilateral. Por que lutamos? Trabalho & Educação. Belo Horizonte. V. 23. N. 1. P. 187-205. Jan-abr., 2014. Disponível em https://periodicos.ufmg.br/index.php/trabedu/article/view/9303/6679. Acesso em 17 ago. 2023.
COAN, M. Formação profissional e politecnia. Florianópolis: IFSC, 2014. 80 p. Disponível em file:///C:/Users/rhean/Downloads/Esp%20Proeja%20-%20Politecnia%20-%20MIOLO.pdf. Acesso em 18 ago. 2023.
FRIGOTTO, G. Trabalho-educação e tecnologia: treinamento polivalente ou formação politécnica? Educação e Realidade, 14 (1): 17-26, jan.-jun., 1989.
MACHADO, L. Politecnia, escola unitária e trabalho. São Paulo: Cortez, 1989.
MACIEL, A. C. Marx e a politecnia, ou: do princípio educativo ao princípio pedagógico. Revista Exitus, vol. 8, núm. 2, pp. 85-110, 2018. Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA. Disponível em https://www.redalyc.org/journal/5531/553159852005/html/. Acesso em 16 ago. 2023.
MACIEL, A. C.; BRAGA, R. M. Projeto Burareiro: politecnia e educação integral à luz da pedagogia histórico-crítica. In: Santos, N. Alinhavos em ciências humanas. Porto Velho: EDUFRO, 2007, p. 59-74. Disponível em http://www.sbpcnet.org.br/livro/58ra/SENIOr/RESUMOS/resumo_3364.html. Acesso em 16 ago. 2023.
MARX, K. Instruções para os delegados do Conselho Geral Provisório. As diferentes questões. Lisboa: Avante Edições, 1982. Disponível em https://www.marxists.org/portugues/marx/1866/08/instrucoes.htm. Acesso em 16 ago. 2023.
MOURA, D. H.; FILHO, D. L. L.; SILVA, M. R. Politecnia e formação integrada: confrontos conceituais, projetos políticos e contradições históricas da educação brasileira. Disponível em https://www.scielo.br/j/rbedu/a/XBLGNCtcD9CvkMMxfq8NyQy/#. Acesso em 16 ago. 2023.
PARO, V. H. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Cortez Editora, 2017.
PEREIRA, A. F. R. Glossário da EPT. Disponível em https://www.glossariodaept.com/politecnia. Acesso em 16 ago. 2023.
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